sábado, 13 de dezembro de 2008

Turistas são extorquidos por soldados e policiais na Bolívia





Po Alexandre Lima do Oaltoacre



Para cruzarem a fronteira, os brasileiros são obrigados a pagar propina aos policias bolivianos.
BRASILÉIA, AC — Turistas que vão às compras na cidade boliviana de Cobija, na fronteira com o Acre, são molestados por policiais e militares corruptos. Estes tentam, de todas as formas, extorquir dinheiro de quem visita a cidade. Os casos de extorsão estão se tornando corriqueiros e, quando pressionados, dizem sem cerimônia que a ordem para molestar os turistas parte de seus próprios comandos.
O caso mais recente aconteceu na manhã de quarta-feira, dia 10, quando uma turista foi passear e fazer compras em Cobija. As mulheres, por sua fragilidade, são os alvos preferidos dos policiais bolivianos. A turista teve seu carro — um Saveiro, placa DDU 9698, de São Paulo — interceptado por um homem à paisana de moto em um semáforo próximo ao Quartel da Policia Nacional Boliviana.
Após chegar documentação, o motoqueiro afirmou que a turista havia cometido uma infração de trânsito. O carro não estava em nome da turista. A situação fez com que o motoqueiro a conduzisse até ao comando da policia local.
É exatamente nesse ponto que começa o erro. Carros apreendidos em Cobija devem ser levados para o Diprove, órgão que cuida do trânsito, e não para o comando policial.
O ALTO ACRE apurou que, no comando, a turista esperou várias horas — ela ficou no local das 8h30 às 11h30. Depois dessa longa espera o soldado que a abordou apareceu novamente. Segundo a turista, o militar estava de posse de um papel (percebeu ser forjado) que, segundo ele, seria do sistema de trânsito do Brasil.
O “documento” atestava que a motorista do Saveiro teria cometido uma infração de trânsito do lado brasileiro e que, em função disso, ela só teria o veículo liberado se pagasse as multas. A mulher ficou sem entender nada. Percebendo que a turista estava nervosa, o soldado a chamou a um canto e lhe pediu uma propina de R$ 50 para liberar seu carro.
Após deixar o quartel em Cobija, a mulher procurou a Delegacia de Epitaciolândia e comunicou o ocorrido. Policiais ainda foram ao Comando para comunicar o ocorrido ao general Heredia. O militar boliviano simplesmente que não tinha conhecimento do fato. Mesmo assim, Heredia prometeu tomar providências no sentido de identificar e punir os envolvidos na extorsão.
Heredia reconhece que tipo de ocorrência não pode ocorrer porque prejudica o turismo e a política de boa vizinhança na fronteira.
Soldados pedem propina
A situação não se restringe aos policias de Cobija. Turistas contaram ao O ALTO ACRE que soldados do Exército boliviano estão envolvidos em outro tipo de extorsão. Diariamente, soldados se posicionam na tranca de acesso ao Brasil na cidade de Epitaciolândia. Ali, eles fazem uma “fiscalização” nas compras feitas pelos turistas. Quando vêem que tem muita mercadoria, dizem que estão acima da cota e cobram propina para liberar.
Recentemente houve uma “blitz” no posto aduaneiro. Vários carros ficaram retidos e os soldados não deram a mínima importância ao acordo de livre trânsito na fronteira entres os dois países. Quem tentava ingressar no território boliviano era obrigado a apresentar documentos pessoais e do veículo. Um acordo entre Brasil e Bolívia estabelece que, para o ingresso em um dos países, é necessária apenas a carteira de identidade no bolso.
A situação mudou com o fim do estado de sítio, no mês passado. Em vez da identidade, os soldados bolivianos passaram a exigir passaporte e até registro de nascimento das crianças que se encontram dentro dos veículos. Aqueles que não tinham os documentos exigidos eram obrigados a dar um “agrado” (propina) aos soldados. Os valores variavam de R$ 5 a R$ 50, dependendo do humor do guarda. E quem não tinha dinheiro era orientado a retornar ao Brasil.
Quando questionados, os soldados dizem que a cobrança de propina é orientada pelos comandos da Policia Nacional Boliviana e do Exército. Mas não é isso que diz a cúpula militar. O general Panoso, do Exército boliviano, já teria cogitado trocar todo o efetivo da fronteira em função do aumento dos casos de propina.
Vendas caíram mais de 50%
Carros com placas de fora do Acre e mulheres os principais alvos dos soldados na extorsão de dinheiro. De acordo com alguns turistas, os soldados escaneiam documentos pessoais e dos turistas, fato que tem gerado grande desconfiança. Os turistas também contam que são humilhados pelos soldados.
Devido a pratica, os comerciantes bolivianos são os que mais perdem. Os compradores fugiram com o estado de sítio e ainda não retornaram às lojas. Antes de crise política, Cobija recebia em média 15 mil turistas por semana e uma circulação de U$ 5 milhões no comércio. Os números hoje são 50% menores e tende a piorar em função das ações dos soldados e policiais bolivianos.

Flagrante: um policial tentava extorquir um turista e estava dentro do carro.
As autoridades brasileiras orientam que os turistas molestados devem guardar o nome e, após retornarem ao Brasil, devem registrar ocorrência policial. As queixas são levadas ao conhecimento do cônsul da Bolívia em Brasiléia e aos comandos da Polícia e do Exército boliviano.

Um caso hilário ocorreu esta semana. Ao ser flagrado tentado extorquir um grupo de turistas, um soldado do Exército ficou lívido, gaguejou e, refeito do susto, afirmou, sem cerimônia, que o turista havia cometido “una infración” (uma infração).
Nervoso, o soldado entrou no carro para conduzir o motorista até ao departamento de trânsito de Cobija. Como o motorista não pagou propina, o carro foi levado para o Diprove, sendo seguido pela reportagem de O ALTO ACRE. Passados alguns minutos, o brasileiro foi liberado porque o Diprove constatou que ele não havia cometido nenhuma infração.


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